A CARTA DE JUDAS

Epístola de Judas
 1- AUTOR: JUDAS

O autor do livro se identifica como irmão de Tiago (v.1). Tendo em vista que Tiago não é tema deste artigo, não faremos aqui a defesa de sua identidade, contudo partimos do princípio de que seja este o líder da igreja de Jerusalém e irmão de Jesus por parte de mãe, portanto, de igual modo Judas também seria meio irmão de Jesus. Cremos que este seja o Judas listado em Mateus 13.55 e Marcos 6.3.

Concordando com as afirmações acima temos a seguinte declaração:

Michel Green (1993, p.41): Clemente de Alexandria diz nas Adumbações que esta carta foi escrita por Judas, Irmão de Tiago, Irmão do Senhor. Epifânio diz a mesma coisa, mas o chama de apóstolo também, como fazem muitos dos Pais (Orígenes, Atanásio, Jerônimo, Agostinho). Judas, no entanto, não era apóstolo. Apresenta-se como “servo do Senhor Jesus Cristo, e meio Irmão de Tiago. Não pode haver dúvida a quem se refere”.

O mesmo autor citando Kümmel, afirma que se identificando como irmão de Tiago o autor do livro é suficientemente claro, uma vez que havia um só Tiago eminente e bem conhecido, Irmão do Senhor.

Não descartando o fato de que alguns estudiosos o identificam como o apóstolo Judas, chamado Lebeu ou Tadeu, o escritor Merril Frederick Unger concorda com a autoria proposta aqui e afirma ainda que “Inicialmente descrente (Jô 7.3-5), convenceu-se da divindade de Jesus (At 1.14)” (2006, p.671).

A terceira obra a concordar com a autoria proposta é a de J. Sidlow Baxter que afirma ainda que:
(...) seu estilo direto e simples, o testemunho que dá a vida da Igreja, o tipo de doutrina que evidência e, acima de tudo, a improbabilidade de que qualquer falsificador escolhesse um nome tão obscuro quanto o de Judas sob o qual ocultar-se, ou tivesse pensado em escrever uma epístola desse tipo, fez com que conquistasse aceitação geral como sendo genuína (1995,p.338).

Todas as demais obras e autores que serão citados concordam com a autoria aqui defendida.

2 – DATA

F. F Bruce (2009, p.2209) estipula a mesma data que o professor Charles C. Ryrie, nos comentários introdutórios ao livro de Judas (1993, p. 1242), afirma, ou seja, que esta carta foi escrita entre os anos 70 e 80 d.C.

Já Unger(2006, p.671), prefere estimativa mais antiga, entre 66 ou 67d.C, com base na defesa feita na carta contra a apostasia e heresias da época.

Michel Green inicialmente afirma que tendo em vista o conteúdo do livro, as estimativas variariam entre 60 e 140 d.C, contudo comenta:

Há, pois, pouca coisa como fundamento nesta questão da data. Se Judas fez uso de 2 Pedro, este fato fixa, uma data recuada para este escrito, e torna provável uma data pouco depois para Judas (...) Se conforme Bigg improvavelmente pensava, Judas foi um meio-irmão de Jesus, mais velho do que Ele, é improvável que tenha vivido além de cerca de 65 d.C, e, como conseqüência, uma data pouco antes daquela seria necessária se ele a escreveu. Mas se, conforme é muito mais provável, Judas era o meio-irmão mais jovem de Jesus (na realidade o filho mais jovem de José e Maria), então ele poderia ter muito bem vivido até a década 80, e ter escrito sua carta em qualquer tempo nos dez ou quinze anos anteriores (1993, p. 46).


03 – DESTINATÁRIO

Das obras consultadas não há maiores comentários a respeito do destinatário da carta. De uma forma geral  parecem atribuí-la “aos crentes em geral”, afirma Unger (2006, p.672). F. F. Bruce concorda e completa: “(...) embora sem dúvida, enviada primeiramente a um local específico”.

Assim comenta Halley (1994, p.597): “Parece que Judas tivera o plano de escrever uma declaração geral mais circunstanciada a este grupo de igrejas, nas quais parecia ter interesse pessoal e pastoral, v3”.

Apenas completando o que foi dito, Gerhard Hoster(1996, p.177) afirma que esta carta “parece mais uma carta aberta enviada a Cristãos-Judeus no ambiente helenístico.

04- LOCAL DA ESCRITA

Não há na carta qualquer indício do local onde foi escrita, sendo que das obras consultadas apenas duas arriscam citar o local sem maiores comentários, sendo que Unger(2006) afirma que esta foi escrita na costa do mar Morto. Com base nas citações do v.7, diz que provavelmente a carta foi escrita próximo ao local onde ficava a cidade de Sodoma.

Entretanto, preferimos a análise mais simples de F. F. Bruce (2009, p.2208) que concordando com o fato de não haver na carta dados que demonstrem o local onde foi escrita, comenta: “Se o autor era filho de José e Maria, a carta provavelmente foi escrita na palestina”.

05 - CONTEXTO HISTÓRICO

Pouca coisa pode ser usada para situar esta carta dentro de um contexto histórico e todas elas dizem respeito  a data em que foi escrita. Se considerarmos como dito no tópico 2, as faixas de tempo, teremos os períodos imediatamente anteriores e posteriores a destruição de Jerusalém, de qualquer maneira período de grande perseguição aos cristãos e dentro do século I.

06 – PRINCIPAIS PERSONÁGENS

a) Tiago: Usado como referência, identificando o autor como irmão de Tiago, conhecido como líder da igreja de Jerusalém. Esta referência é a principal causa da indicação da autoria da carta, tendo em vista a importância do nome de seu irmão.

b) Falsos Mestres: Homens que espalhavam uma doutrina falsa, de comportamento questionável.

Sobre estes falsos mestres havia o peso de negarem a Cristo e a deturpação da graça (v.4), daí serem reconhecidos como gnósticos como cita Bruce (2009, p.2208):

“Os falsos ensinos eram evidentemente de caráter antinomista. O antinomismo foi uma das manifestações do pensamento gnóstico; homens dessa convicção consideravam toda matéria má; e tudo que fosse de natureza espiritual era bom. Por isso eles cultivavam a sua vida espiritual, enquanto davam liberdade a sua ‘carne’ para fazer o que quisesse, como se não tivessem responsabilidade alguma por seus delitos, com o resultado de que eram culpados de imoralidade ostensiva de todos os tipos”.


c) Os anjos caídos: referência que encontra semelhança em outras passagens como 2 Pedro 2:4 e Apocalipse 12:9.

d) Arcanjo Miguel em Contenda com o Diabo: Miguel é citado em outras passagens como Dn 10:13,21 como príncipe e em Apocalipse 12:7 como comandante de anjos. Somente nesta passagem é citado como Arcanjo (Halley, 1994). Referente ao epsódio narrado no livro apócrifo “Assunção de Moises” (Halley, 1994, p 598).

e) Enoque: Citado nesta passagem como profeta, tendo como base o livro apócrifo, “escrito por volta de 100 a.C” (Halley, 1994, p. 598).


07 – LUGARES CITADOS

Não há citações de lugares visitados, referências de locais destino ou de onde estava o autor. Cita apenas o Egito e as Cidades de Sodoma e Gomorra.

08 – PROPÓSITO DA CARTA

Se existe algo de evidente e bem definido na carta de Judas é o seu propósito, Como já dito sobre os falsos mestres (Item 6. a. deste artigo). Como bem diz Baxter (1995, p.339):

“Esta pequena epístola de Judas foi escrita sob constrangimento especial como o próprio autor diz no v.3. O constrangimento surgiu de uma consideração perturbadora da apostasia que estava prejudicando as assembléias cristãs devido aos ensinos subversivos de falsos irmãos”.

09 – PRINCIPAIS DOUTRINAS

Unger(2006, p.672), destaca dois pontos principais que são a “salvação comum” e “defesa militante da fé” em Jesus. O ponto chave de sua defesa parece ser o v. 3 como bem afirma Baxter(1995, p.339), contudo, entendemos que o autor da carta uma vez que faz a defesa contra os ensinos dos falsos mestres, também ensina sobre a verdadeira graça, que os falsos mestres haviam transformado em libertinagem, e a soberania de Jesus como Salvador.

10 – PASSAGENS OBSCURAS.

Entendemos que as passagens do livro de Judas tidas como controversas por citar livros apócrifos (ver item 6.d. e e. deste artigo), não invalida sua mensagem uma vez que ele trata com pessoas para os quais aquelas passagens eram tidas como comuns e usuais. Devemos considerar ainda que somente mais tarde houve a formação do cânon que conhecemos.

Quanto a passagem que diz respeito a corpo de Moisés afirma Halley (1994, p. 598): “Diz Josefo que Deus escondeu o corpo de Moisés para que não se fizessem dele um ídolo. Possivelmente Satanás quis o corpo para incitar Israel a idolatrá-lo. Referindo o incidente, Judas parece ratificar sua Historicidade”.

Quanto a citação do livro de Enoque, na mesma página da obra do autor citado no parágrafo acima temos o seguinte comentário: “O fato de Judas sancionar uma passagem do livro, não importa na sanção do livro todo”.

11 – TEMA DA CARTA

Como já afirmamos no Item 09, o versículo 3 parece ser o ponto chave da Carta. Dele destacamos a defesa militante da fé e a graça de Jesus Cristo como tema da carta.

12 – ESTILO A ESCRITA

Não encontramos melhor descrição deste tópico do que a feita por Horster (1996, p.177) que diz que “Mesmo apresentando um cabeçalho típico, é difícil carecterizar Judas como uma carta escrita a um grupo definido de leitores de uma igreja. Parece mais uma carta aberta enviada a Cristãos-Judeus no ambiente helenístico.

13 – TEXTO CHAVE

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.
Judas 1:3

11 – CONCLUSÃO

O tema da carta parece bem atual, muitas cartas são escritas diariamente por pessoas, cristãos que incomodados pelo Espírito Santo de Deus, sentem-se enojadas ao ouvir falar de “pai-postolo’s”, mestres de uma falsa doutrina que ensina a seguir uma liderança cega que não vê que o evangelho de Jesus ensina que “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.” Mateus 23:8 .

Também podemos citar a famosa teologia da prosperidade que mede a benção de Deus de acordo com a marca e o ano do carro do irmão. “quanto mais caro mais unção”. Os que pregam isto devem ter rasgado de suas bíblias o texto que diz: “E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.

Bem posso eu levantar-me num dia destes a escrever aos meus irmãos que “tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela [Verdadeira] fé que uma vez foi dada aos santos”.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BAXTER, j. Sídlow. Examinai as Escrituras. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.

BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2009.

GREEN, Michael FILHO, II Pedro e Judas: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1983.

HALLEY, Henry H. Manual Bíblico : Um comentário abreviado da Bíblia. 3ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1994.

HOSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1996.

RYRIE, Charles C. A Bíblia de Estudo Anotada Expandida. São Paulo : Mundo Cristão, 2008.

UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. São Paulo: Vida Nova, 2006.